Quem é a brasileira premiada por trabalho de proteção ao meio ambiente e conservação da Terra

No Dia Internacional da Mulher, g1 conta a trajetória da ambientalista Maria Amália Souza, criadora de um fundo para destinar investimentos à natureza diretamente para povos inseridos nos biomas. Brasileira recebe reconhecimento mundial por trabalho de proteção ao meio ambiente e Planeta Terra
Arquivo pessoal
A ambientalista brasileira Maria Amália Souza é uma das 16 mulheres reconhecidas mundialmente por fazer a diferença na proteção ao meio ambiente e conservação do planeta Terra.
A premiação internacional ’16 Women Restoring the Earth’ – em português, ’16 mulheres que restauram a Terra’ – acontece anualmente no Dia da Mulher e tem como objetivo valorizar mulheres em destaque na atuação ambiental e que estão na linha de frente de crises climáticas e de biodiversidade.
O que é o prêmio:
▶️A premiação é organizada pelo ‘Global Landscape Fórum’, plataforma global relacionada ao meio ambiente que reúne líderes climáticos do mundo todo e se dedica a reunir a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o Acordo do Clima de Paris.
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Brasileira recebe reconhecimento mundial por trabalho de proteção ao meio ambiente e Planeta Terra
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Moradora de Cunha, no interior de São Paulo, Maria Amália Souza é criadora de um fundo que tem como objetivo para destinar investimentos à natureza diretamente para povos inseridos nos biomas.
“Fico feliz que esse trabalho de fazer essa ponte de colocar esse holofote nas comunidades me rendeu uma atenção especial, um reconhecimento que não é meu. Sinceramente vejo como o resultado de um trabalho coletivo de muito amor da nossa equipe, dos nossos grupos, dos nossos amigos, das nossas redes e desse universo de pessoas que luta tanto é está sempre em um lugar de invisibilidade. Espero que isso traga visibilidade para essa causa, que é a causa da minha vida”, destacou ao g1.
Outras brasileiras já foram destacadas em edições anteriores do prêmio. Entre elas a modelo e ativista Gisele Bündchen, a cientista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Luciana Gatti, a empreendedora Fe Cortez, que trabalha com a recuperação de resíduos sólidos, e a atual ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara.
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Como é o trabalho de Amália
Impactada pela falta de conservação do planeta, a ambientalista dedicou sua carreira a entender como os investimentos das fundações filantrópicas poderiam realmente fazer a diferença.
Em 2005, Amália criou o ‘Fundo Casa Socioambiental’, cujo objetivo é fazer com que os recursos de investidores cheguem ao coração das florestas e às mãos dos povos que vivem e conhecem os biomas que são fundamentais na proteção da Terra, como a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal.
“Os investimentos dos grupos filantrópicos sempre foram para ONGs gigantes, que são eficientes, mas não suficientes porque são apenas executores”, explica.
“Eu sentia a falta do passo seguinte, do recurso direto para quem realmente faz a diferença, que são os indígenas, os ribeirinhos e as comunidades que sabem cuidar dessas regiões de verdade”
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De acordo com ela, 80% das florestas que estão de pé no planeta se localizam em territórios de povos originários, como as reservas indígenas e comunidades tradicionais. Para a Amália, é nesses locais que o recurso precisa chegar.
“O recurso precisa chegar àqueles que são mais afetados, mais vulneráveis, mas que têm mais propostas eficientes e são os verdadeiros guardiões e protetores”, disse a g1.
A ambientalista Maria Amália Souza durante viagem à terra indígena Kaxinawá, no Acre, em 2000
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A iniciativa de Amália foi o primeiro fundo criado na América do Sul, o que aos poucos provocou a criação de outros no continente e, posteriormente, fora dele – hoje, ao todo, são nove fundos que trabalham com o mesmo intuito.
A equipe do ‘Fundo Casa Socioambiental’, que começou apenas com ela, hoje conta com 20 pessoas, que são técnicos que realizam consultas em diversos biomas. A ideia é entender o que a região precisa e quais são as prioridades em relação à conservação da natureza.
“Nosso trabalho é desenvolver estratégias e simplificar o processo, dando dinheiro e recursos a projetos locais, onde até então os investimentos nunca chegavam. O povo tem soluções”, afirma.
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Impacto
O fundo criado por Amália apoia atualmente uma média de 500 projetos por ano. Ao longo dos 18 anos de existência, o número total chega a três mil em 10 países diferentes, tendo movimentado mais de R$ 60 milhões.
Entre as comunidades contempladas estão:
associações de pescadores em regiões afetadas por vazamento de óleo;
mulheres artesãs;
associações de agroecologia;
comunidades indígenas;
quilombolas;
sustentabilidade urbana;
soberania alimentar.
“É um grande avanço, mas ainda assim não é o suficiente. Há uma gigante demanda”, diz Maria Amália.
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Investimentos nacionais
O trabalho influenciou a criação de outros oito fundos ao redor do mundo, principalmente na América do Sul, África e Ásia – esses grupos formaram a ‘Alianza Socioambiental Fondos del Sur’, que cada vez mais tem atraído investimentos internacionais de fundações filantrópicas, como por exemplo corporações do famoso Vale do Silício.
Os investimentos nacionais, no entanto, ainda são considerados extremamente escassos. Para a ambientalista, o problema está na falta de confiança de investidores brasileiros nos trabalhos do próprio país.
“No Brasil muito pouca gente aparece para ajudar. As pessoas pensam que aqui nada funciona e que ninguém tem dinheiro.”
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De acordo com ela, os investimentos do exterior são muito mais comuns. Um exemplo é Mackenzie Scott, ex-mulher de Jeff Bezos (proprietário da Amazon e um dos homens mais ricos do mundo). Ela decidiu doar uma grande parte da fortuna para ONGs e o ‘Fundo Casa Socioambiental’ foi uma das contempladas.
“Fizemos uma entrevista, falamos sobre nosso trabalho e isso deu confiança a ela. Nem nos conhecia antes e decidiu fazer um investimento milionário.”
MacKenzie Scott
Reuters
Mulheres no meio ambiente
Divulgada recentemente, uma pesquisa liderada pelo Fundo Casa Socioambiental sobre a atuação das mulheres na agenda socioambiental revelou que em 28% das organizações avaliadas as mulheres têm se sentindo mais empoderadas, fortalecidas e capacitadas para atuar no ramo.
Amália conta que mais da metade dos projetos que chegam ao fundo são liderados por mulheres, que demonstra que o trabalho de proteção ambiental está sendo, de fato, comandado por elas.
“As quilombolas, indígenas e ribeirinhas têm um papel muito forte e que não é tão reconhecido. É muito importante valorizar e demonstrar isso”, relata.
“Tem muito papel relevante das mulheres dentro dessa luta de preservação, conservação, regeneração e proteção da vida no planeta”
Visita de Maria Amália ao povo Yawanawá no Rio Gregório, no Acre, em 2012
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08/03/2023 07:00

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