Duna de Jericoacoara que diminuiu de tamanho é ponto de encontro de turistas para aplaudir o pôr do sol

Pesquisador defende a realização de um estudo na região para que sejam trabalhadas medidas de proteção das dunas. Duna do Pôr do Sol, em Jericoacoara, vem diminuindo de tamanho nos últimos anos
Um dos pontos turísticos da praia de Jericoacoara, no Ceará, a Duna do Pôr do Sol é ponto de encontro de visitantes para aplaudir o poente. A duna tem diminuído de tamanho nos últimos anos, em razão de fatores naturais, como os ventos e as marés, mas o processo tem acelerado com a ação humana.
A tradição de aplaudir o pôr do sol, inclusive, é uma das causas. Após esse momento, também é comum que turistas pulem das areias em direção ao mar, o que contribui para a degeneração da duna, conforme explica Paulo Sousa, professor do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará (Labomar/UFC).
“As pessoas vão para lá desde que Jericoacoara começou a despontar como cenário turístico nacional e internacional. Assistem o pôr do sol, aplaudem e pulam. As pessoas costumavam pular da Duna do Pôr do Sol, causando um processo de avalanche e movimentando um volume de sedimento muito maior”, explica.
Segundo o especialista, contudo, a formação trata-se de uma duna móvel, portanto já era esperado que ela fosse diminuindo de tamanho. “Na década de 1970, essa duna estava mais para dentro do continente. Com o passar dos anos elas vão migrando. Os ventos vão transportando sedimentos, fazendo com que ela migre em direção ao oceano. Esse processo é natural”, diz Paulo Sousa.
Processo natural
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O desaparecimento da Duna do Pôr do Sol está relacionado com a ação humana, déficit de areia e processos naturais, segundo o Coordenador Científico do Planejamento Costeiro e Marinho do Ceará, Eduardo Lacerda Barros.
A formação, que já chegou a 60 metros de altura na década de 1980, atualmente está reduzida a um banco de areia na faixa da praia cearense.
“Esse processo é natural. Obviamente que aí você tem questões antrópicas [ação humana], que podem acelerar, como o pisoteio, você pisando na areia, propicia uma remobilização de sedimentos na superfície, e aí mais facilmente quando esse material é levantado o vento consegue transportar, causando uma diminuição de areia”, disse Eduardo Lacerda.
Conforme o pesquisador, a Duna do Pôr do Sol faz parte de um grande sistema de dunas móveis, que tem como principais fatores para a formação a ocorrência de vento e a disponibilidade de areia, porém esse processo está sendo prejudicado pelo déficit de areia no estado.
“Os corredores eólicos, que são fundamentais para transporta essa areia em direção as dunas, não têm mais areia e a consequência disso é a perda de volume da Duna do Pôr do Sol. Daqui algumas décadas, novas dunas que estão na retaguarda do que hoje é a Duna do Pôr do Sol vão se fazer presentes nesse trecho”, disse Eduardo.
Para o pesquisador, é necessário fazer um estudo na região para trabalhar nas melhores medidas para proteção das dunas.
“Obviamente a gente precisa fazer um controle, uma gestão para uma maior preservação desses ambientes, para que a gente possa garantir que essas dunas possam continuar, mas a gente também depende de questões naturais, como a disponibilidade de areia, faz tudo parte desse processo de estudo, de monitoramento e de preservação”.
Atrativo turístico, Duna do Pôr do Sol em Jericoacoara está quase desaparecendo.
Reprodução/Hugo Albuquerque
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Impacto humano
Na década de 1980, duna tinha cerca de 60 metros
João Justino
Em 2019 o g1 publicou uma reportagem sobre a diminuição da duna. Na época, pesquisas da Universidade Federal do Ceará (UFC) apontavam que a migração da Duna do Pôr do Sol foi incrementada a partir de 2001, “possivelmente estando relacionada aos impactos do homem, que interage com a dinâmica dos ventos e o aumento da temperatura global”, explica o técnico da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), e doutorando na Universidade Estadual do Ceará (Uece), Gustavo Gurgel.
Ele esclarece ainda que ao longo dos últimos anos, os corredores de ação eólica, os quais são responsáveis por alimentar as dunas, “perderam suas funções”.
O pesquisador reitera que os “corredores não conseguem mais levar a quantidade de areia necessária para garantir a manutenção da faixa. Desta forma, não está havendo alimentação da duna”.
Duna do Pôr do Sol se reduziu a um banco de areia desde que passou a receber muitos turistas
Maristela Gláucia/TV Verdes Mares
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31/03/2023 07:01

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