Novo favorito de Trump, Bukele é acusado de violar direitos humanos ao reduzir criminalidade em El Salvador e virou exemplo para a extrema direita dos EUA


Modelo autoritário de salvadorenho, que se consolida no poder com popularidade, agrada ao presidente americano. Trump recebe Bukele na Casa Branca em meio a protesto e não poupa elogios: ‘Baita presidente’
Nayib Bukele, o controverso presidente linha-dura de El Salvador, se gaba de ser o ditador mais legal do mundo e comandar o país com a taxa de encarceramento per capita mais alta.
Nesta segunda-feira (14), ele ganhou lugar de honra no Salão Oval da Casa Branca, ao lado de Donald Trump, com quem partilhou princípios comuns, como associar falsamente o autoritarismo à liberdade.
“Presidente, o senhor tem 350 milhões de pessoas para libertar. Mas para libertar 350 milhões de pessoas, o senhor precisa prender algumas delas. É assim que funciona, certo? Somos um país pequeno, mas podemos ajudar.”
O modelo de Bukele para se manter no poder como um presidente popular agrada a Trump, sobretudo nas artimanhas utilizadas para burlar o sistema legal. No comando do país desde 2019, o presidente salvadorenho reduziu a taxa de homicídios com métodos específicos, que incluem prisões arbitrárias, encarceramentos em massa e restrições à liberdade de expressão, entre outros.
Bukele prenderia os criminosos americanos na enorme prisão que ele mandou construir
Secretaria de Imprensa da Presidência de El Salvador
Somam-se a eles nomeações de juízes alinhados ao governo e manobras para abolir os limites de mandatos, que permitiram a reeleição do presidente, no ano passado.
De acordo com o Índice de Democracia publicado pela revista britânica “The Economist”, o país caiu 24 posições desde que Bukele assumiu o poder, ocupando a 95ª posição, e passou da classificação de democracia falha para regime híbrido.
Se as medidas aplicadas pelo presidente são condenadas pelas entidades de direitos humanos como abuso de poder, parecem agradar à boa parte dos salvadorenhos, que aceitaram a troca das liberdades civis por mais segurança. Um estado de emergência “temporário”, que concede poderes autoritários de detenção, está em vigor há três anos.
Isso tudo explica o prestígio de Bukele no Salão Oval, como o primeiro líder latino-americano a visitar a Casa Branca, diferentemente do que ocorreu em março com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que foi humilhado publicamente e enxotado da sede do governo americano.
Trump aposta nos métodos de Bukele e, num raro gesto, cedeu gentilmente a palavra a ele. Assim, partiu do presidente salvadorenho a decisão de não devolver o conterrâneo Kilmar Abrego Garcia, deportado por engano de Maryland, nos EUA, para El Salvador, apesar da ordem contrária da Justiça americana.
Trump encontra o presidente de El Salvador Nayib Bukele no Salão Oval, na Casa Branca, em Washington, D.C., nos Estados Unidos
Reuters/Kevin Lamarque
“Como posso contrabandear um terrorista para os Estados Unidos?”, questionou Bukele. Sob a alegação de que é membro da gangue MS-13, Abrego Garcia foi transferido para o Centro de Confinamento de Terrorismo — a megaprisão de alta segurança construída por Bukele.
A certa altura, empolgado pela colaboração do colega salvadorenho, Trump admitiu a possibilidade de enviar cidadãos americanos para a prisão de El Salvador: “Se for um criminoso local, não tenho problema com isso”, atestou.
Cidadãos americanos não podem ser deportados ou ter a entrada barrada nos EUA.
A aliança entre o presidente dos EUA com o autoritário Bukele seria considerada improvável por seus antecessores. “Ele é um presidente e tanto”, resumiu Trump sobre o salvadorenho.
A parceria abriu caminhos para Bukele, que interage livremente com expoentes do movimento MAGA e serve como modelo para a extrema direita.
El Salvador recebe suporte financeiro para receber os rejeitados do governo americano e teve o status elevado de acordo com os parâmetros da atual administração. Subiu, por exemplo, para o Nível 1, o melhor na classificação de recomendação de viagem do Departamento de Estado dos EUA, mais seguro do que França, Reino Unido (ambos no Nível 2) e Brasil (Nível 3).
A cordialidade entre os dois presidentes era evidente. Sob o governo Trump, que terceiriza os imigrantes deportados, o autoritário Bukele também escapa livremente do escrutínio de suas políticas internas.
Mais vantajoso para ambos, impossível.

15/04/2025 10:33

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