Diretor-executivo da empresa se afastou do comando depois de aparecer em vídeos debochando dos próprios clientes. Agência de viagens vem adiando o cumprimento de compromissos assumidos. Pacotes de turismo cancelados e muita dor de cabeça. O principal sócio do Hurb batia boca com clientes, alguns, de madrugada.
Passageiros sem voos, sem hospedagem: a agência de viagens Hurb, uma das maiores do Brasil, enfrenta uma crise grave e vem adiando o cumprimento de compromissos assumidos. Para piorar a situação, o diretor-executivo da empresa se afastou do comando depois de aparecer em vídeos debochando dos próprios clientes, mas a postura de João Ricardo Mendes já chamava atenção antes.
Excêntrico, o dono da Hurb já se definiu como o “Elon Musk brasileiro”. Depois que sua empresa começou a apresentar problemas, ele vinha contatando clientes de madrugada para justificar as falhas da agência de turismo dele; era comum o dono da Hurb aparecer com uma resposta depois de meia-noite. Ao Fantástico, ele se justifica dizendo que se concentra melhor à noite.
“Durante a madrugada eu sou menos interrompido. Então, eu tento entender os problemas, entender uma leitura superficial”, conta.
O “CEO da madrugada” usou a tática dos Bombeiros: procurou focos de problemões em potencial. Um dos clientes que falou com João foi o advogado Celso Paraíso, que tinha prometido ajudar outros clientes a processarem a empresa.
“Ele falou: ‘você já viu um CEO de uma grande empresa ligar para um cliente?’. E eu respondi: não. Eu fiquei super… eu não entendi'”, relembra.
Outra cliente, a empresária Geovana Nascimento, também usou a força do grupo na negociação com a empresa. Ela fez um grupo de WhatsApp para reunir outras pessoas que estivessem na mesma situação que ela e organiza protestos toda semana em frente à sede do Hurb no Rio de Janeiro.
Ela conta que eles sofreram deboches e tentativa de agressão, mas que acreditaram quando João prometeu que resolveria o problema deles se eles entregassem a faixa de protesto que tinham. No começo do mês, o dono da Hurb publicou um vídeo enigmático, ironizando a situação e pisando no cartaz com reclamações contra a empresa.
“Eu senti – e 400 pessoas sentiram o mesmo: sensação de como se a gente fosse palhaço; revolta”, diz Geovana.
Um dos confrontos terminou até com o vazamento de dados pessoais do cliente – inclusive informações do cartão de crédito. João ligou para o vendedor Miguel Nader Júnior à 1h.
João: Você parece uma marica no grupo, fazendo um monte de picuinha. Ô, José, o que é que ele ganhou?
José (funcionário): Uma fila de espera. Ele vai viajar em 30 de fevereiro de 2026.
João: Acaba de ganhar um toco.
Miguel: Eu trabalho. Não dependo do dinheiro de ninguém. Eu vivo do meu dinheiro, entendeu?
João: Eu sei. Eu vivo do meu, por isso que eu ganho umas 3 mil vezes a mais que você. Tu é um bundão, bundão, bundão! Fica satisfeito já de não viajar, porque, putz, cara, está arriscado de alguém bater na tua casa hoje, aí nessa m* da sua casa aí, tá, ô seu otário!
Ao Fantástico, João se justificou:
“Você está em grupo com pessoas com problema, dando o seu melhor para resolver, tendo muita gente virando noite para resolver o quanto antes e acontece isso… Eu acho que eu errei como CEO, mas como ser humano eu errei também”.
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A Hurb tem recebido uma chuva de liminares, obrigando a cumprir os contratos com os clientes ou com hotéis e pousadas que não receberam pela hospedagem. A agência de viagens não cumpriu algumas delas, mas João promete resolver tudo em 10 dias.
“Torce contra, porque está mais fácil virar esse jogo do que eu pensava”, diz ele em vídeo.
A Secretaria Nacional do Consumidor alerta que pode multar a Hurb em até R$ 13 milhões e suspender as vendas. A empresa precisa provar que tem condições de cumprir os contratos.
O secretário da Senacom, Wadih Damous, enxerga um erro de cálculo: a empresa teria apostado que o turismo voltaria devagar após a pandemia e que os setores hoteleiro e aéreo aceitariam os pacotes baratos que a agência tinha vendido, como uma passagem e hospedagem em Tóquio por R$ 2 mil ou uma viagem para a Bahia por menos de R$ 400 com hotel e aéreo. Mas o turismo na verdade voltou forte e houve ainda a crise do petróleo, que encareceu as passagens aéreas.
“Uma empresa, quando começa a operar o seu negócio, ela corre risco. Agora, esse risco não pode recair sobre os clientes; a consequência do risco mal calculado. Então, eles fizeram estimativas absolutamente otimistas, eu diria até temerárias”, afirma Wadih.
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