Agência de notícias se recusa a chamar o Golfo do México de ‘Golfo da América’, o que levou Trump a bloquear o acesso de jornalistas a eventos na sede do governo. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 7 de abril de 2025
REUTERS/Kevin Mohatt
Um juiz dos Estados Unidos determinou nesta terça-feira (8) que a Casa Branca suspenda as restrições de acesso impostas aos jornalistas da Associated Press (AP) devido à decisão da agência de notícias de continuar se referindo ao Golfo do México em sua cobertura.
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A decisão do juiz distrital dos EUA Trevor McFadden, nomeado por Donald Trump durante seu primeiro mandato, obriga o governo a permitir que jornalistas da AP tenham acesso ao Salão Oval, ao Air Force One e a eventos realizados na Casa Branca enquanto o processo movido pela agência tramite na Justiça.
“O tribunal simplesmente considera que, sob a Primeira Emenda, se o governo abre suas portas para alguns jornalistas — seja para o Salão Oval, a Sala Leste ou outro local — não pode então fechá-las para outros jornalistas devido às suas opiniões”, escreveu McFadden em sua decisão.
O juiz afirmou que sua decisão só entrará em vigor no domingo (13), dando tempo à administração Trump para recorrer.
A AP processou três assessores seniores de Trump em fevereiro, alegando que as restrições foram uma tentativa de coagir a imprensa a usar a linguagem preferida pelo governo. O processo afirma que as restrições violam proteções previstas na Constituição dos EUA para a liberdade de expressão e o devido processo legal.
Os advogados da administração Trump argumentaram que a AP não tem direito ao que a Casa Branca chamou de “acesso especial” ao presidente.
Inicialmente, o juiz McFadden recusou o pedido da AP por uma ordem emergencial para suspender as restrições. No entanto, ele destacou que, historicamente, os tribunais costumam favorecer os jornalistas em casos relacionados ao acesso da imprensa.
A Casa Branca começou a restringir o acesso da AP a vários eventos com Trump depois que a agência de notícias declarou que continuaria usando o nome Golfo do México, apesar da ordem de Trump para renomear a área como Golfo da América.
Dois jornalistas da AP, Zeke Miller, correspondente-chefe da Casa Branca, e Evan Vucci, chefe de fotografia em Washington, disseram ao tribunal que as restrições prejudicaram a capacidade da agência de cobrir Trump.
“Estamos praticamente paralisados em grandes reportagens”, testemunhou Vucci, que fez a agora icônica fotografia de Trump cerrando o punho após a tentativa de assassinato em 2024.
Miller afirmou ter notado uma “suavização no tom e na postura das perguntas que alguns repórteres fazem ao presidente”.
Brian Hudak, advogado do Departamento de Justiça que representa os assessores de Trump, negou na audiência que a AP tenha sido totalmente excluída. Ele afirmou que fotógrafos da agência ainda tiveram acesso a alguns eventos na Casa Branca e que repórteres baseados no exterior participaram de encontros entre Trump e líderes estrangeiros.
Hudak argumentou que a Casa Branca tem autoridade para impedir jornalistas da AP de entrar nos espaços pessoais e de trabalho do presidente e acusou a agência, por suas decisões editoriais, de “se recusar a aderir ao que o presidente acredita ser a lei dos Estados Unidos”.
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O caso
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fala durante uma cerimônia em homenagem aos membros do campeão da World Series de 2024, Los Angeles Dodgers, na Sala Leste da Casa Branca em Washington, D.C., EUA, em 7 de abril de 2025
Leah Millis/Reuters
Os jornalistas da AP foram retirados do grupo de repórteres da Casa Branca, conhecido como “press pool”, que cobre eventos no Salão Oval e viaja com o presidente.
Em fevereiro, a Casa Branca passou a controlar a escolha dos veículos que fazem parte do grupo de imprensa. A Reuters, que divulgou um comunicado apoiando a AP, historicamente ocupava um lugar fixo no grupo e, agora, tem uma vaga rotativa entre as agências de notícias.
A AP também foi impedida de participar de eventos maiores na Casa Branca que estavam abertos a outros repórteres credenciados, segundo a queixa apresentada pela agência.
As restrições impedem os jornalistas da AP de ver e ouvir Trump, além de outros altos funcionários da Casa Branca, enquanto tomam decisões relevantes ou reagem em tempo real a eventos noticiosos.
A medida foi criticada por diversos grupos de defesa da liberdade de imprensa e pela Associação dos Correspondentes da Casa Branca.
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