Juíza que analisa caso de imigrante deportado dos EUA por engano manda indireta a Trump e diz que não vai tolerar ‘bravatas’


Kilmar Abrego Garcia foi enviado para um presídio de segurança máxima em El Salvador, mesmo tendo proteção da Justiça dos EUA para não ser deportado. Caso gerou polêmica e disputa judicial. Trump desafia Justiça e ignora ordem para repatriar imigrante deportado
A juíza americana responsável pelo caso de um homem deportado por engano dos Estados Unidos para El Salvador disse, durante uma audiência nesta terça-feira, que não vai tolerar “bravatas” e “jogos políticos”. Paula Xinis mandou um recado para o governo do presidente Donald Trump.
A magistrada convocou a sessão para discutir os próximos passos diante do que chamou de falha do governo Trump em atualizá-la sobre os esforços para trazer de volta o imigrante salvadorenho Kilmar Abrego Garcia, que foi deportado em março.
Mesmo tendo uma ordem que o protegia da deportação e autorização para trabalhar nos EUA, Garcia foi enviado para um presídio de segurança máxima em El Salvador. O governo chegou a admitir que houve um erro no procedimento.
Neste mês, a juíza Paula Xinis determinou que o governo garantisse o retorno de Garcia aos Estados Unidos. A decisão dela foi parcialmente confirmada pela Suprema Corte, e o caso se tornou uma guerra de narrativas. Veja detalhes mais abaixo.
“Precisamos garantir o devido processo para ambos os lados. Mas vamos avançar. Não haverá tolerância para jogos políticos ou bravatas”, disse a juíza Xinis.
Em documento apresentado pouco antes da audiência, o advogado do Departamento de Segurança Interna, Joseph Mazzara, disse que Garcia não é mais elegível para proteção contra deportação — e que, se retornasse aos EUA, seria deportado novamente.
Mazzara citou a suposta filiação de Garcia à gangue MS-13, que o governo Trump classifica como organização terrorista. Os advogados do imigrante negam a acusação e afirmam que os EUA não apresentaram nenhuma prova confiável sobre isso.
Questionada sobre o caso nesta terça-feira, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que o governo está cumprindo todas as ordens judiciais.
Antes da audiência, manifestantes do lado de fora do tribunal gritavam “Tragam Kilmar de volta”. A esposa do imigrante, Jennifer Vasquez Sura, pediu aos governos dos EUA e de El Salvador que o devolvessem.
“Me vejo implorando à administração Trump e ao governo Bukele que parem de fazer jogos políticos com a vida de Kilmar”, disse Vasquez Sura.
‘Facilitar e Efetivar’
Kilmar Abrego Garcia, deportado por engano para prisão em El Salvador
Murray Osorio PLLC vía AP
No dia 4 de abril, a juíza Xinis ordenou ao governo que “facilitasse e efetivasse” o retorno de Garcia aos Estados Unidos, que está preso em um megapresídio de segurança máxima conhecido como Centro de Confinamento do Terrorismo (CECOT), em El Salvador.
A Suprema Corte dos EUA manteve a decisão da juíza na semana passada, após contestação do governo Trump, mas indicou que o termo “efetivar” era vago e poderia extrapolar a autoridade do tribunal. Xinis, então, exigiu que o governo apresentasse um cronograma para trazê-lo de volta.
Ao considerar que o governo não cumpriu a ordem, a juíza determinou que fossem enviados relatórios diários sobre o que estava sendo feito para repatriar Garcia.
No domingo (13), o governo respondeu dizendo que “facilitar” significava apenas remover obstáculos domésticos à volta de Garcia, sem envolver-se nas relações com um país estrangeiro.
Trump afirmou que o governo traria o homem de volta apenas se a Suprema Corte determinasse isso.
Encontro entre Trump e Bukele
Trump encontra o presidente de El Salvador Nayib Bukele no Salão Oval, na Casa Branca, em Washington, D.C., nos Estados Unidos
Reuters/Kevin Lamarque
Trump e o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, se reuniram na Casa Branca na segunda-feira (14). Durante o encontro, Trump chamou de “gente doente” os jornalistas que perguntaram se o governo buscaria o retorno de Garcia.
Já Bukele afirmou que não tem poder para devolver Garcia aos EUA e que não vai devolvê-lo.
“Essa pergunta é absurda. Como eu poderia contrabandear um terrorista para os Estados Unidos?”, disse Bukele.
O senador democrata Chris Van Hollen, de Maryland, afirmou em nota na segunda-feira que, se Garcia não estiver em casa até o “meio da semana”, viajará a El Salvador para discutir sua libertação.

15/04/2025 17:39

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